Para muitos foi uma surpresa quando foi lançado pelo treinador Jeff Loscuito para o lugar do lesionado Maxwell. Decorria o minuto 68, numa altura em que era espectável que entrasse alguém mais rodado para ajudar a assegurar o resultado ou ainda procurar dilatar o score até então tangente.

Mas para quem o acompanha ficou sossegado e com a certeza de que o jovem iria interpretar bem o papel que o treinador pedira ao decidir mandar-lhe ao jogo diante do Costa do Sol. E fê-lo com nota positiva.
Para o museu fica uma data para mais tarde lembrar par o jovem, António Sumbane, que aos 18 anos teve uma estreia absoluta no Moçambola pelo emblema que representa desde 2014, ano que chega ao clube pela mão do projecto “Locomotiva de Esperança”. Não tendo sido ele o melhor jogador do torneio daquele ano. Das mãos de três treinadores foi se moldando, nomeadamente, os coachs Chico, Magid e Relva, nos infantis, juvenis, juniores e equipa B, respectivamente. Com o treinador Jeff Loscuito parece foi amor à primeira vista, pois, desde a sua chegada o belga não prescinde de trabalhar com o miúdo que, entretanto, embora treinando com a equipa principal tem dado quase sempre o seu contributo na equipa B.
Em termos reais, o primeiro jogo oficial pelos seniores foi diante do Vulcano para a eliminatória da Taça de Moçambique, fase provincial da Cidade de Maputo, mas, em termos marcantes o jogo do sábado último, da vitória, por, 2-0, diante do Costa do Sol é o que fica gravado com letras de ouro. Aliás, a sua irreverência foi determinante para o segundo golo (através de grande penalidade) do Ferroviário. Foi travado dentro da área e Filmão Correia não teve dúvidas quanto ao lance ao assinalar falta a favor dos locomotivas.
“Foi incrível! Não foi fácil e logo num clássico com o Costa do Sol. Era um jogo grande. Mas entrei com objectivo de ajudar a equipa. Sempre sonhei com este momento, jogar no Estádio da Machava com aquele público, aconteceu no sábado e só posso agradecer a todos que estão por detrás da minha carreira. O mister pediu-me para desfrutar e ajudar a equipa. Sabia que ia substituir o Maxwell, que tinha marcado o primeiro golo da equipa. Era uma grande responsabilidade, mas o mundo do futebol é assim e nós temos de estar preparados para estes momentos. Acabei ajudando sobretudo com aquele lance que dei falta para penálti” conta o médio ofensivo e estudante do primeiro ano do curso de Gestão de Empresas na Universidade São Tomás.
Na equipa não falta apoio dos mais velhos dos quais diariamente recebe conselhos.
“É gratificante tê-los comigo. Ajudam bastante, não só a mim como a outros jovens que estão na equipa. Dizem para melhorar aquele e outro aspecto. Dão a confiança para eu fazer as coisas e quando falho tenho sempre um puxão de orelhas, mas tudo de forma cordial. Quero aproveitar as oportunidades que o treinador me conceder e procurar agarrar o lugar na equipa, esse é o meu objectivo imediato. Todo o jogador sonha alto e também sonho em um dia jogar na Europa (Alemanha) e representar os Mambas. Penso que com o trabalho é possível” reconhece.
A sua estreia na equipa principal não ficou despercebida pela maioria dos jovens da sua idade que também lutam pelo mesmo propósito de jogar pelo Ferroviário.
“O que temos vindo a nos prometer uns aos outros é trabalhar, trabalhar e trabalhar e sempre trabalhar. Nunca parar de sonhar. Hoje fui eu amanhã será outro, de certeza. Temos a sorte de ter um treinador que aposta nos jovens e nos mostra que não é a idade que joga, nem os tempos de clube. Quando faz isso está a desafiar aos jovens a trabalharem mais. Estamos felizes por isso e quero acreditar que daqui para frente muita coisa vai mudar” completa António Sumbane.

Quinta vitória do Ferroviário de Maputo no Moçambola 2022. Segunda vitória por mais de um golo, até porque antes vencera o Incomáti de Xinavani (1-0), Liga Desportiva (1-0), Ferroviário de Nampula (1-0) e Ferroviário de Nacala (3-0). Crédito, no triunfo no clássico, para os jogadores que souberam interpretar a estratégia de Jean Loscuito.

Créditos, igualmente, para a equipa técnica “locomotiva” que manietou, e muito bem, um Costa do Sol que não teve argumentos no Estádio da Machava, tão pouco para travar a avalanche ofensiva dos donos da casa.
“Fizemos muita pressão na linha defensiva do Costa do Sol. Criámos muitos problemas ao nosso adversário. Na primeira parte, tivemos duas oportunidades para marcar. Foi um clássico muito bom. É normal. Fomos mais equipa, conseguimos criar muitas situações na primeira parte. A equipa foi consistente e solidária”, notou o treinador belga.
Jogar com as linhas encostadas e partir na contra-ofensiva foi a estratégia montada pelos verde-e-brancos.
“Na segunda parte, o plano do jogo foi dar iniciativa do jogo ao adversário. Sabíamos que o Costa do Sol iria procurar reagir. Tentamos aproveitar este aspecto para explorar contra ataques, Graças a Deus ganhamos dois a zero”, disse o técnico.
O apoio dos adeptos, mormente o facto da claque ter apoiado o conjunto locomotiva do início ao fim, foi determinante para sair da Machava com os três pontos.
“Queria dedicar esta vitória aos adeptos e a direcção do Ferroviário de Maputo”.
Há, nesta altura, um sentimento de que a equipa tem crescido. “É verdade que começamos mal. Mas, depois, melhoramos. Temos uma boa equipa. Temos jogadores com muita experiência e também alguns dos juniores. Trabalhámos duro ao longo da semana. Esta é uma vitória muito importante para o grupo”, finalizou.

Primeiro clássico de Jean-François Loscuito no Moçambola, vitória sem espinhas do Ferroviário de Maputo diante do Costa do Sol, por 2-0. Vitória construída, diga-se, logo cedo com os “locomotivas” a fazerem pressão alta, condicionando os “canarinhos” na primeira zona de construção.

Nove anos depois, fez-se história no Estádio Nacional do Zimpeto. Com sotaque locomotiva, diga-se, os Mambas asseguraram a presença, pela segunda vez na sua história, no CHAN, depois da estreia em 2014,na África do Sul.