terça-feira, 12 março 2024 07:38

In memórias (Adeus Coach): Nelson Mafambane faz o balanco do seu Ferroviário 87

Nelson Mafambane 1O dia 12 de Março será recordado como uma data cinzenta para o Clube Ferroviário de Maputo, CFvM, dado o golpe que teve com a partida do carismático Nelson Mafambane para o além.

No ano do centenário, lembramos alguns, dos vários, episódios que marcaram a história deste clube com uma entrevista conduzida pelo renomado jornalista Boavida Funjua (título póstumo) no verão de 12 de Dezembro de 1987.
As opiniões divergem nos meandros dos adeptos do Clube. um dos blocos defende que com o plantel que a colectividade movimentou este ano, o Ferroviário tinha a obrigação de realizar uma carreira melhor. Outros há que partilham a ideia de que face a quantidade de jovens que foram lançados a equipa principal este ano, fazendo uma mistura com os veteranos, os resultados alcançados constituíram um indicador animador e cumpriu-se a obrigação que se exigia aos técnicos e jogadores: não descer da divisão. Nelson Mafambane é o homem abalizado para dar as respostas as questões que se poem em redor do Ferroviário/87.
Como explicar a saída de Nelson Mafambane de Aguia D’Ouro depois de uma carreira cem por cento vitorioso que culminou com a subida da equipa a primeira divisão?
– A minha saída do Aguia D’Ouro não foi resultado de uma zanga qualquer. No final da época, solicitei a direcção do clube que fossem melhoradas as minhas condições contratuais. Discutimos esse aspecto e não chegamos a nenhum consenso. Por essa altura fui contactado pelos dirigentes do Ferroviário de Maputo para que fosse lá ajudar o meu colega Joaquim João. Vim para o Ferroviário, não porque ofereceram o melhor como muita gente comenta, mas sim por ser meu clube de sempre.
Daí que…
– Daí que no final do Torneio de Abertura a minha transferência para o Ferroviário tenha vindo a consumar-se. A direcção do clube foi realista. Não me exigiu que ganhasse o campeonato, mas sim que fizesse um trabalho em profundidade de lançamento de novos valores, que vinham nessa altura do escalão júnior e garantisse a continuidade da equipa na primeira divisão, pois havia risco de despromoção fase ao novo figurino estabelecido pela Federação Moçambicana de Futebol.
Olhando para trás, valeu ou não a pena aceitar o convite formulado?
– A grande aposta era fazer com que a equipa não descesse de divisão. Reconheço que muitas pessoas são de opiniões que devíamos ter feito mais. Respeito essas opiniões, mas sem querer arranjar desculpas devo confessar que houve alguns senhores que tentaram tudo por tudo para prejudicar o nosso trabalho.
– Está a fazer uma acusação directa a alguém?
– A ninguém em particular, mas o que me aconteceu ao longo da época foi triste, para quem trabalha semanalmente para competir e obter rendimento desse trabalho. Não é uma acusação vaga. A arbitragem foi em alguns jogos madrasta à minha equipa. Para mim, devia-se criar uma comissão que avaliasse o trabalho destes homens, porque não se pode continuar a permitir que se exijam responsabilidades aos treinadores e jogadores quando eles fazem aquilo que lhes apetece. Eu não queria particularizar. Penso que todas as pessoas têm direito a salvaguardar o nome, mas o que eu disse é uma realidade apalpável, que não podem negar alguns dos nossos árbitros.
– O Ferroviário foi uma das equipas que realizou um pequeno saneamento na equipa principal e este ano fez aquilo que pode chamar aliança entre a juventude e veteranos. Quais os dividendos colhidos nessa tentativa?
– A mistura que fizemos ainda não deu os resultados que seriam de desejar. Mas foi salutar demonstrar a algumas pessoas que que os jovens que alinharam na equipa na presente época, se forem humildes e trabalharem sem gabarolice, serão num futuro não muito distante bons jogadores. Em contrapartida, nos mais velhos não vi um comportamento satisfatório em termos de entrega ao trabalho e disciplina que pudesse servir de exemplo aos mais novos.
– O que faltou concretamente a equipa perante a irregularidade na actuação?
– Com todos os erros que nos podem apontar, o que mais senti na equipa foi a falta de concretização das oportunidades que tínhamos, de transformar os lances que organizávamos em golos. O Ferroviário não teve um homem de área, que dá trabalho aos centrais, que é oportuno, que tem sentido de oportunidade e que jogou bem de cabeça. Quem tinha de ir lá a frente cabecear era o defesa Madjaia ou Fumo. Só temos homens para fazerem espectáculo. Para uma equipa que ambiciona ser campeã, isto de futebol é um erro de palmatória.
– Que tipo de jogadores o Ferroviário tem nas fileiras?
– Tenho jogadores habilidosos como os casos de Jerry, Armandinho, Danito e João. E outros que sem ter uma grande valia técnica são peças fundamentais a equipa. São alguns desses jogadores que achando-se habilidosos descuram o trabalho de preparação física, não se entregam com afinco aos treinos e dentro das quatro linhas começamos a verificar que não ganham lances de bola dividida, nem acertam nas marcações. Só nessa altura é que apercebem de que a habilidade não chega para muitas situações e que são chamados a intervir, no decorrer do jogo.
– Quer mencionar esses jogadores?
– Uma mão cheia deles. Bastará reparar os casos de Nhaca, Santinho e Armandinho. São habilidosos, mas onde está a força? Do Jerry ainda não se compreende, porque nós recebemos instruções para trabalhar com ele com muito cuidado.
–Perante essa cenário em que Nelson Mafambane trabalhou, a opção é parar ou continuar?
– Eu aceitei ser treinador num terreno que antes já tinha apalpado. Aceitei o desafio porque gosto de trabalhar mas nem toda a estrutura de apoio ao futebol funcionou devidamente. Quero me referir particularmente ao Departamento de Futebol. Aconteceu várias vezes em que nós tínhamos que nos preocupar com o problema de equipamentos e de autocarros para os jogadores. Problemas sociais que eram apresentados pelos jogadores aos técnicos. Tudo isto tem que ser equacionado e colocar as pessoas nos devidos lugares. Uma coisa é certa. Não tenho qualquer tipo de problema com a Direcção do Ferroviário por quem tenho todo o meu apreço e estarei aberta a continuar na equipa caso não surjam contrariedades de última hora. por agora todos os atletas e equipa técnica estão de ferias. Aguardemos pela próxima época.

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